Petrobras cai, mas prejuízo e uso de reserva para dividendos não deveriam assustar

Em um primeiro momento, os resultados da Petrobras (PETR3;PETR4) no segundo trimestre de 2024 (2T24) podem ter surpreendido negativamente os investidores, com a companhia registrando um prejuízo líquido de R$ 2,6 bilhões no período. Esse é o primeiro resultado negativo desde o terceiro trimestre de 2020, principalmente devido a impactos tributários e cambiais.

No mesmo período do ano anterior, a empresa havia reportado um lucro líquido de R$ 28,8 bilhões, enquanto no primeiro trimestre deste ano o resultado foi de R$ 23,7 bilhões.

Apesar disso, analistas afirmam que as perdas não devem alarmar os investidores. Mesmo assim, após a divulgação do balanço, as ações PETR3 caíram 2,62% (R$ 38,66) e PETR4 recuaram 2,85% (R$ 35,80) às 10h24 (horário de Brasília).

“Acreditamos que o prejuízo registrado no trimestre vai estar em destaque na mídia ao longo do dia. Entretanto, recomendamos que os acionistas da empresa não se preocupem, considerando a natureza desse prejuízo”, destaca a Genial Investimentos em relatório.

Isso porque a empresa enfrentou dois eventos não recorrentes que impactaram seus resultados. O primeiro foi o reconhecimento de um custo de R$ 10,6 bilhões na despesa financeira referente ao acordo com o CARF, anunciado em 18 de junho. A decisão foi vista como positiva, pois eliminou um risco maior (que poderia chegar a R$ 44 bilhões) e preservou os futuros pagamentos de dividendos da empresa.

O segundo fator foi a marcação a mercado da dívida da empresa (que é parcialmente dolarizada) devido à significativa desvalorização do real no trimestre, o que impactou negativamente o resultado em R$ 18,7 bilhões. “Nesse caso, é importante entender que esse evento não tem impacto imediato no caixa (o valor total da dívida dolarizada é atualizado em reais de uma única vez), e a Petrobras é uma empresa que tem seu principal produto atrelado ao dólar. Portanto, eventuais desvalorizações do real são compensadas na receita da empresa, proporcionando estabilidade ao fluxo de caixa em relação à despesa financeira com a dívida dolarizada”, avalia a casa de análise.

A Genial considera que a geração de caixa livre da empresa foi razoável, mesmo em um trimestre com margens de refino pressionadas, e que, com a normalização da paridade de preços no último trimestre – ainda que com alguma preocupação sobre a recente desvalorização do dólar – a situação deve melhorar. Além disso, a redução do investimento previsto para 2024, de US$ 16 bilhões para US$ 13,5-14,5 bilhões, deve trazer algum alívio ao fluxo de caixa da empresa no segundo semestre de 2024 (2S24).

A XP Investimentos aponta que, ajustando para os itens não recorrentes, o lucro líquido teria sido de US$ 5,4 bilhões. O FCFE (fluxo de caixa livre para o acionista) ficou em US$ 3,7 bilhões, alinhado com as expectativas dos analistas.

O FCFE recorrente representa um rendimento anualizado de cerca de 20%, reforçando a visão positiva dos analistas da XP sobre a tese de investimento na Petrobras.

A dívida líquida aumentou em US$ 2,5 bilhões, totalizando US$ 46,2 bilhões no final do 2T24, enquanto a dívida financeira líquida (excluindo arrendamentos) ficou em US$ 12,9 bilhões (+US$ 3,3 bilhões em relação ao trimestre anterior). O aumento da dívida é explicado por dividendos e recompras de US$ 7,3 bilhões, parcialmente compensados por vendas de ativos e capital de giro de cerca de US$ 0,3 bilhão. Com isso, o FCFE ficou em US$ 3,7 bilhões, alinhado com a estimativa da XP, implicando um rendimento de cerca de 4% no trimestre. “Para chegar a um FCFE recorrente, ajustamos ainda mais a liquidação de impostos de US$ 0,7 bilhão para atingir cerca de US$ 4,4 bilhões, o que representa um rendimento anualizado de cerca de 20% nos preços atuais das ações. Isso está em linha com nossos modelos e reforça nossa visão positiva sobre a Petrobras, dada sua forte geração de caixa e dividend yield”, avalia a corretora.

**Dividendos em destaque**
O anúncio de dividendos foi um destaque à parte. A companhia informou o pagamento de proventos de cerca de R$ 13,6 bilhões (cerca de 2,9% de rendimento, ou yield, em relação ao valor das ações preferenciais), em linha com as expectativas da XP e do consenso.

O valor de aproximadamente R$ 1,05/ação (cerca de US$ 0,38/ADR, ou recibo de ações negociado na Bolsa de Nova York) representa um yield de cerca de 2,9% para as ações preferenciais e 2,7% para as ordinárias, respectivamente. As ações serão negociadas ex-dividendos em 22 de agosto. A Petrobras também realizou recompra de ações no valor de R$ 772 milhões (cerca de US$ 140 milhões) no 2T24. As distribuições totais seguiram a política de dividendos da companhia.

No acumulado do 1S24, as distribuições anunciadas aos acionistas somaram R$ 27 bilhões, o que é superior ao lucro líquido acumulado no primeiro semestre (R$ 20,6 bilhões). Isso ocorreu devido ao prejuízo líquido da Petrobras no 2T24. Como resultado, a Petrobras anunciou que os R$ 6,4 bilhões serão financiados a partir da reserva estatutária de remuneração de capital criada anteriormente em 2024. Dessa forma, o saldo remanescente dessa reserva foi reduzido para R$ 15,5 bilhões, em comparação com R$ 22 bilhões no final do 1T24.

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